Farlley Derze

Sei bem o efeito do abandono
Já quis ressuscitar minha infância
Mas o acúmulo de experiências não deixa
Uma delas é lembrar de você
Convivo com essa emoção desidratada
Inventei a mania de tomar banho no escuro
Saio do banheiro sem me secar
O vento entra pela janela aberta
Não acendo as luzes
Sento-me na cadeira da cozinha
Espero meu corpo secar
Penso na madrugada
Vejo-me nu pelas ruas
Caminho descalço até tua casa
Passo pelos postes acesos
Enxergo minha sombra rastejante
Que saudade do teu travesseiro
Aquele cheiro de chá
De repente tudo evapora
Você me sepulta
Enquanto me aprisiona
Farlley Derze

Eu tinha uma fogueira de sentimentos
Hoje carrego uma vela
Se o destino nos deu uma xícara de chá
Guardo a fumaça da tua voz
Eu tenho insônias de propósito
Te amo contra tua vontade
Teu beijo invadiu meu futuro
Abro minhas gavetas
Pra sentir o ar da tua varanda
Fecho os olhos
Enxergo tudo que quero
Fiz uma música pra você
Quisera herdar o teu sorriso
Ver-te através de uma taça
Merecer aquela embriaguez
Quando o céu fica escuro
Escuto o trinco da tua porta
Minha esperança é um milagre desperdiçado
Ouço o que o passado consegue me dizer
Envelheço junto com os teus silêncios
Farlley Derze

Nem sei como acordarei amanhã
Que tu retornes à minha rotina
Com teu nome em minha garganta
Às vezes soluço
Mas é de esperança
Peço-te ao destino
Ouço ecos no travesseiro
Um silêncio prolixo
Hipóteses vãs
Às vezes suspiro
Mas é de pavor
Dessa escuridão inerte
Nas madrugadas
Envio-te beijos anônimos
O passado deu-te a mim
O futuro está mudo